A luta entre espectros políticos como uma estratégia de estado

A defesa consistente e inafastável do purismo como disciplina ética e do agorismo como padrão de comportamento contra o estado são as únicas formas de evidenciar o libertarianismo como um conjunto de princípios filosóficos manifestamente contrários ao movimento massivo de militantes políticos. Os libertários não têm que se assemelhar às massas cegas, nem tampouco se utilizar das mesmas narrativas e meios de ação que o próprio estado estabeleceu como possíveis e necessários para a preservação da suposta ordem democrática que ele ambiciona.

Essa tal ordem democrática nada mais é do que uma ferramenta de manipulação com o intuito de cristalizar na mente dos governados o conceito de um ideal sublime relacionado à personificação do estado como entidade permanente de manutenção da paz e do progresso social, o que nunca foi e nunca será uma verdade, visto que o estado é uma força que atua contra os princípios da lei natural.

Poucos se dão ao trabalho de entender porque o estado permite que grupos de diferentes espectros políticos obtenham, de tempos em tempos, o controle temporário da narrativa política e, sob a observação e controle final do DEEP STATE, assumam a prerrogativa da execução de algumas ações de governo.

Mas eis o porquê de o estado permitir que tal ambiente de debate político se prolifere:

A máquina estatal sobrevive e tem seu modus operandi definido pela perpetuação dos ciclos econômicos de recessão e expansão. Convém que, em algum momento, as forças políticas de retração (conservadoras, liberais e gradualistas) assumam os cargos políticos de direção, executando assim sua agenda de cortes no orçamento público, diminuição de impostos e desburocratização. Apesar dessas medidas serem um alívio à opressão do estado via tributação e regulações, elas não são o antídoto para o grave problema da imposição de um ente ilegítimo e controlador sobre nossas vidas.

Qualquer estado que fosse tomado de assalto por políticas radicais de liberdade e que perdesse todos os seus poderes de coerção sobre os indivíduos chegaria ao fim num curto espaço. Um fim trágico teria um governo que fosse tomado por políticas assistencialistas que o levassem à bancarrota. No entanto, em qualquer dessas situações o estado chegaria ao fim somente se perdesse a primazia de coagir e impor políticas de governo que evitassem sua própria extinção.

Por mais que, em alguns governos totalitários, algumas políticas governamentais assumam uma aparência de definitividade, muitas delas possuem caráter econômico e ideológico misto no que tange a espectros políticos. Governos de esquerda podem assumir num dado momento posições conservadoras quando isso for uma necessidade urgente. Do mesmo modo, governos de viés liberal podem assumir posições assistencialistas e estatizantes se isso for relevante para a manutenção do estado.

A raiz do problema chama-se coerção e ela jamais é erradicada dos governos independentemente do posicionamento político que assumam. Todos os governos – sejam eles de viés liberal, conservador ou socialista – se mantêm unicamente pelo uso da força coercitiva obtendo suas receitas do espólio coletivo, que eufemisticamente chamam tributação. A instituição e manutenção do estado não se faz de outro modo senão pela força, pois o estado não foi construído pelo voluntarismo. Essa raiz amarga da opressão está presente em todos os governos democráticos.

A falsa sensação de mudança que aparece num dado momento político não representa a tão almejada abolição da escravatura estatal. Por um golpe do destino, muitos dos que hoje “saboreiam” a vitória de um determinado grupo político poderão vê-lo entregar a estrutura do estado a outros atores de ideias absolutamente contrastantes, os quais executarão seu trabalho tal como o establishment os incumbiu de fazer. O que nunca mudou e o que nunca mudará é a natureza coercitiva dessas instituições.

Dessa forma, é inadmissível que libertários participem desse teatro de fantoches, que não tem outro fim senão o de legitimar as medidas de preservação da ordem institucional que o estado tem interesse em manter intactas. Tal como gado, rebanho guiado rumo ao abatedouro, esses indivíduos sem vontade própria buscam as vias políticas. Gastam tempo e energia fazendo publicidade de seus próprios algozes sem se dar conta de que estão cada vez mais próximos do abate. Muitos por oportunismo; outros por inocência, mas ambos contribuindo de forma sistemática para a propaganda institucional do estado.

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