Você já parou para pensar no que sustenta um lockdown e as medidas restritivas que são impostas socialmente hoje? Podemos dizer que algumas das razões que fazem as pessoas se submeterem aos comandos das autoridades públicas são bem óbvias e eu farei uma breve exposição da mais importante delas, mas adicionarei uma análise sociológica para que entendamos com mais clareza o que acontece no mundo hoje.
O medo é uma mecanismo natural no comportamento humano de modo que dissociá-lo do nosso ambiente psicológico pode gerar consequências graves. É em função do medo que muitas vezes evitamos situações que podem nos machucar ou mesmo trazer sérios prejuízos para nós e para terceiros[1]. No entanto, para que tenhamos um comportamento sadio em relação aos nossos medos é necessário que tenhamos certo conhecimento das situações que nos causam esses receios. Conhecer, então, envolve mais do quer ter a vontade de saber o que está acontecendo pois requer uma dose de autocontrole suficiente para dimensionarmos se os nossos medos se fundam em algo real ou de fato perigoso. Apesar de termos em nós esse mecanismo natural de defesa, é mister reconhecer que medos infundados também podem nos gerar graves prejuízos ou mesmo distúrbios emocionais e psicológicos graves. Basta ir a uma clínica de psicanálise para entender que muitos desses medos se transformam em problemas que acometem milhares de pessoas no Brasil e no mundo[2].
Diante desse quadro devemos analisar cada situação concreta com muita atenção para não sermos arrastados por uma maré de emoções causadas por perspectivas fantasiosas de um mal inexistente. Um medo infundado nos leva a comportamentos que muitas vezes não reconheceríamos em nós mesmos em situações normais. O arrependimento por se deixar levar por essa onda de emoções nem sempre é suficiente para reparar os prejuízos causados pela nossa falta de controle. Randall Collins nos apresenta uma série de exemplos desse comportamento irracional em um de seus livros. Nos dá exemplos de como as pessoas podem transmutar um temperamento calmo e pacífico em atitudes vis e violentas ao se exporem a situações que lhes causem medo, pavor e receio infundados [3].
Sempre existiram e ainda existem homens hábeis o suficiente para explorar os medos das pessoas para atingir certos objetivos pessoais. Vendedores usam essas habilidades, bem como negociadores, religiosos e políticos o fazem com maestria. Somos bombardeados diariamente por argumentos que nos causam sensações ruins relacionados ao medo. O medo de perder um relacionamento, medo de perdermos nossos bens, medo de perdermos amigos e parceiros, medo de não alcançarmos a bem-aventurança pós-morte e também o medo de ficarmos doentes. Muitos desses medos não fazem sentido algum, mas, ainda assim, eles rondam nossa consciência quase que diariamente. Algumas pessoas conseguem lidar melhor com essa situação e de certa forma bloquear sua influência negativa, mas essa não é a realidade da ampla maioria dos indivíduos. Muitas pessoas vivem a vida de modo defensivo simplesmente atacando fantasmas e situações irreais. Agem de forma irracional gastando energia com o que não deveria, ou seja, com aquilo que nem sequer existe.
Existem então dois fatores que em conjunto colaboram para um cenário de manipulação e deturpação das necessidades reais das pessoas:
a) há uma maioria de indivíduos com a mentalidade repleta de medos infundados e sentimentos ruins relacionados a eles;
b) há uma minoria de indivíduos dotada de habilidades e conhecimentos sobre como manipular esses medos em larga escala para consecução de certos objetivos;
Para demonstrar a existência desses dois fatores convém analisarmos essa situação hipotética: imagine que você está andando na rua onde você mora e um homem vire a esquina correndo e gritando que há um bandido armado assaltando as pessoas na rua de onde ele veio. Eu não sei o que você faria, mas posso afirmar que a maioria das pessoas também sairia correndo e avisando aos demais transeuntes. Com pouco tempo todos os pedestres correriam gritando que há um bandido armado atrás da esquina. Mesmo que um homem destemido vá até lá para checar se de fato a situação é verdade, muitas pessoas continuarão dizendo que havia um bandido naquela rua. O homem destemido, então, vira a esquina para checar e passa a dizer que a situação não é real. Não há um bandido armado naquela rua, mas infelizmente muitas pessoas que ouviram os gritos do primeiro homem que corria avisando já não estavam ali para atestar o ocorrido. Mesmo que o homem destemido diga para as outras pessoas posteriormente que não havia um bandido naquela rua, elas não poderão atestar o fato, muitas delas continuarão acreditando ou ficarão em dúvida. Na dúvida, as pessoas evitarão se expor a um suposto risco. É bem provável que os jornais noticiem que havia um bandido na rua e o efeito será então massificado, potencializando os resultados a favor de quem tinha a intenção de disseminar a falsa notícia.
Tal situação é similar à apresentada na perspectiva dos lockdowns: alguém disse que havia um vírus, as pessoas contaram para seus amigos e parentes, os jornais noticiaram e a suposta pandemia ganhou forma mesmo com todos os dados que comprovam a sua inexistência[4]. Infelizmente não é possível desfazer os prejuízos que a disseminação do medo provocou nas pessoas durante esse ano de 2020. Os lockdowns estão dando a cara de novo tal como no primeiro semestre. As medidas restritivas mais duras também estão de volta. Sabemos que tudo isso é fruto da disseminação de falsas notícias e a exploração do medo que está sempre batendo à porta da raça humana: o medo da morte.
Mas e as pessoas? São capazes de virar a esquina para saber o que está acontecendo?
Reflita…
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Referências:
[1]The Neuroscience of Fair Play – Donald W. Pfaff
[3]Violence, a Micro-sociological Theory – Randall Collins
[4]https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/07/29/internacoes-de-doencas-provocadas-por-virus-respiratorios-registram-queda-durante-o-periodo-de-frio-neste-ano.ghtml
